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Domingo, 25 de Maio de 2025
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Maria Adelina Braz – Referência do movimento negro 202b23

Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora #054 6c6wv

Alexandre Müller Hill Maestrini
Por Alexandre Müller Hill...
Maria Adelina Braz – Referência do movimento negro
Maria Adelina Braz
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O objetivo dessa série é dar visibilidade para aqueles que a sociedade sempre tentou tornar invisíveis. Assim nasceu a série Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora. O #NossasRiquezasPretasJF é um projeto antirracista do Instituto Autobahn que visa destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso para as futuras gerações. Iniciado em 2023 com o formato de coluna no Portal de Notícias RCWTV, a reportagem #001 foi sobre Carina Dantas, #002 Antônio Carlos, #003 Geraldeli Rofino, #004 Sérgio Félix, #005 Fernando Elioterio, #006 Maurício Oliveira, #007 Ademir Fernandes, #008 Gilmara Mariosa, #009 Batista Coqueiral, #010 Cátia Rosa, #011 Eliane Moreira, #012 Antônio Hora, #013 Ana Torquato, #014 Alessandra Benony, #015 Sil Andrade, #016 Joubertt Telles, #017 Edinho Negresco, #018 Denilson Bento, #019 Digo Alves, #020 Suely Gervásio, #021 Tânia Black, #022 Jucelio Maria, #023 Robson Marques, #024 Lucimar Brasil, #025 Dagna Costa, #026 Gilmara Santos, #027 Jorge Silva, #028 Jorge Júnior, #029 Sandra Silva, #030 Vanda Ferreira, #031 Lidianne Pereira, #032 Gerson Martins, #033 Adenilde Petrina, #034 Hudson Nascimento, #035 Olívia Rosa, #036 Wilker Moroni, #037 Willian Cruz, #038 Sandra Portella, #039 Dandara Felícia, #040 Vitor Lima, #041 Elias Arruda, #042 Bruno Narciso, #043 Régis da Vila, #044 Claudio Quarup, #045 Wellington Alves, #046 Lucimar Silvério, #047 Paul Almeida, #048 Negro Bússola, #049 Zélia Lima, #050 Paulo Cesar Magella, #051 Samuel Lopes, #052 Gláucio Anacleto de Almeida, #053 Gustavo Cyrillo, #054 Maria Adelina Braz.
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Por Alexandre Müller Hill Maestrini

Maria Adelina Braz é adesguiana, sindicalista e atualmente a presidente da União das Negras e Negros pela Igualdade UNEGRO-JF, membro da UNEGRO/MG e secretária na UNEGRO/BR. Ela se orgulha de ter dedicado uma vida inteira ao movimento negro em Juiz de Fora e continua na luta pelos menos privilegiados. Adelina participou da fundação do Conselho da População Negra e da fundação do Conselho da Mulher. Sempre com espírito social, foi chefe e presidente do 72º G/MG Escoteiro de Liz da Manhã, no bairro Benfica, fundado em 16.09.1990 pelo Ten Cel SAREx Padre Lindenberg Freitas Muniz.
Ela falou abertamente e com carinho sobre seus anteados: “sei que a minha bisavó materna era índia e foi pega no laço. Já minha avó materna Florisbela Duarte, que também foi escrava, foi benzedeira e parteira”. Sobre o seu avô materno Bernardo Duarte ela só sabe que era filho de um português com uma africana. A mãe de Adelina, Maria Concerta Braz, nasceu na Zona da Mata, na Vila de Conceição do Ibitipoca e cresceu no Quilombo Colônia do Paiol, em Bias Fortes – MG (hoje patrimônio Imaterial): “sei que ela trabalhou muito em casa de família e na roça”, comentou. A mudança para Juiz de Fora aconteceu quando o avô de Adelina faleceu e sua mãe tinha apenas 13 anos: “minha avó trouxe a minha mãe ainda pequena e os dois irmãos em busca de sobrevivência e foram se estabelecer no bairro Monte Castelo, em Juiz de Fora – MG”. Adelina veio ao mundo pelas mãos da própria avó materna, que era parteira, em 13.05.1948: “nasci num pequeno Quilombo que tinha entre o bairro Monte Castelo e o bairro Carlos Chagas. Minha família vivia numa casa de sapê, nesta época não tinha saneamento básico, era água só de mina, luz de querosene e fogão de lenha”.
A mãe trabalhou como lavadeira doméstica e fazia faxina nas horas de folgas para sustentar os filhos por alguns anos: “eu também ajudava lavando e ando as roupas com ferro de carvão”. Maria Concerta Braz conseguiu ingressar numa fábrica de tecidos. Nessa época a mãe se filiou ao sindicato dos têxteis e se tornou uma grande líder: “ela lutava ao lado de grandes sindicalistas como Clodesmidt Riani e Valdecir Martins”. Mais tarde sua mãe foi trabalhar na Fábrica Industrial, no bairro Santa Cruz: “em 1964 ela ia para as greves e me levava. Com apenas 16 anos eu já ia junto para o enfrentamento nas ruas e foi com ela que eu aprendi o que é ser sindicalista”.
Ela sabe que seu bisavô paterno era um africano e foi sim escravo: “não precisamos esconder essa triste história do Brasil”, comentou. Pelo que seus anteados lhe contaram, Adelina lembra que seu pai Jovelino Francisco Braz nasceu no Município de Jequié – Bahia e aos 16 anos se mudou para Niterói – RJ em busca de melhores condições de vida: “alguns anos mais tarde meu pai veio para Juiz de Fora e chegando aqui conheceu a minha mãe”. Jovelino era filho do avô paterno Braz Francisco Vieira e da avó paterna Maria Inês. Segundo Adelina, o pai deu sorte e logo conseguiu trabalho num Curtume, no qual trabalhou a vida toda até se aposentar. Na foto abaixo da esquerda a única foto da mãe de Adelina, no centro com os dois filhos e na direita com o neto.

Durante a entrevista, essa lutadora mostrou com sua fala certeira que ser descendente de africanos não é tabu: “porque todos os nossos anteados negros foram escravos, né? Então não tem como falar outra coisa e não definir a escravidão”. Ela alertou com experiência que muita gente acha que a escravidão já acabou: “mas a gente sente-se feliz do modo que nós vivemos, achamos ainda que a liberdade que nós temos é muito, que é uma vitória. Porém não é assim, a nossa liberdade ainda é muito pouco”, enfatizou.
Foi com muita luta que os pais conseguiram colocaros filhos em colégios bons. Adelina e os dois irmãos cresceram em Juiz de Fora e ela foi cursar o primário no Colégio Santa Catarina, já para o ginásio ela foi transferida para o Colégio dos Santos Anjos até o terceiro ano, porém: “como eu repeti o terceiro ano, minha mãe falou que não ia pagar mais colégio particular para mim, aí eu saí procurando serviço e fui até o Colégio Granbery”. Adelina se matriculou ainda sem saber de sua sorte: “cheguei lá e a secretária Rosinha me perguntou se eu aceitaria fazer a prova para uma bolsa de estudos. É claro que eu aceitei, fiz a prova e ganhei bolsa de 50% do Granbery”.
Ela já estava feliz que pagaria somente metade da mensalidade, mas ainda teria uma surpresa: “quando eu comecei a estudar uma amiga me perguntou se eu aceitava bolsa, pois o pai dela era da prefeitura, e na época a prefeitura dava bolsas de estudo”. Como ela mesmo diz: “graças a Deus ganhei mais 50% de bolsa e foi isso que me deu condição de estudar em escola particular sem pagar e sem ar sufoco financeiro”, sorriu.
Quando ela já estava no segundo científico: “o professor de matemática, que era também diretor da Escola Normal, perguntou quem desejaria fazer normal. Ele explicou que nós poderíamos ir fazer normal à noite e continuar fazendo o científico no Granbery na parte da manhã. Então eu e mais três fomos”. Em 1965, no início da ditadura militar, Adelina se formou no científico no Colégio Granbery: “e nas noites eu estudava também na Escola Normal de Juiz de Fora (atual Instituto Estadual de Educação)”.
Já sentindo os efeitos da ditadura militar, com apenas 18 anos, em 1966, Adelina ingressou no movimento negro fazendo parte do Grêmio Literário Cruz e Souza, associação da sociedade civil, de caráter cultural, com sede em Juiz de Fora e declarado de utilidade pública pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora e pelo Governo de Minas Gerais: “o Grêmio tinha sido fundado pelo Sr. Onofre e o presidente na época era o Sr. Domingos, que foi o primeiro negro a se formar na Faculdade de Direito em JF”. Do movimento fazia parte também Cirene Candanga,  Gabi, Luzia e muitas outras que já lutavam pelos direitos das domésticas.
Todas as segundas-feiras eles se reuniam das 19 até as 20 horas e depois saíam em grupo para ver se tinha alguma moça nova na cidade: “se encontrássemos uma de pano na cabeça, sabíamos que era novata na cidade e que tinha vindo da roça para trabalhar em casa de família. Nós as convidávamos para ir para o Grêmio”, lembrou. Para os negros era um local de luta muito bom: “ali a gente discutia várias coisas e era excelente porque os negros aprendiam como lidar com as mulheres, como respeitá-las, ensinava para as mulheres como se comportarem, tinha aulas de culinária, bordado, etc”.
Adelina deu um triste panorama do racismo na Juiz de Fora dessa época: “negro ainda não andava na parte alta da rua Halfeld. Vivi na pele como nós só podíamos ear no Parque Halfeld, pela rua Marechal Deodoro e pela Praça da Estação”. Segundo ela, os clubes também eram separados: “hoje parece piada, mas os negros não podiam entrar na Casa D'Italia, no Café Dia-e-Noite, em vários bares e no Clube Juiz de Fora e nem no Vasco da Gama”, lembrou com pesar. Por isso ela vem segue na luta: “minha paixão é pelo ser humano de um modo geral. Pela saúde, pelo bem-estar das pessoas, pelos direitos amplos”.
Desde essa época ela vem na luta pelos direitos das mulheres, pelos direitos das pessoas de cor: “pelo direito dos negros de participarem e de estarem em qualquer lugar e de estudarem o que quiserem”. Ela lamentou que na sua época: “a mulher tinha direito sim, mas era o direito de ser empregada doméstica, onde eram tratadas como animais”. Adelina lembrou que as domésticas não tinham um quarto direito para dormir, comiam em pratos separados e nem tinham direito de tomar banho: “então era assim, era cruel, muito cruel”, comentou entristecida.
Para Adelina, ainda hoje os direitos dos negros e pobres não são respeitados: “eu luto muito, muito pelos direitos dos seres humanos”. Ela acredita que o caminho é longo: “eu acho que para sermos respeitado nós pretos temos que ser mais unidos. Não podemos ficar um querendo ar por cima do outro, querer ser mais do que o outro”. Segundo ela é justamente esta desunião que atrapalha: “é isso que impede que nós avancemos na nossa luta. Se nós procurássemos a união, seríamos mais respeitados”. E concluiu que: “só assim os negros terão melhores condições nas discussões, nas negociações e conseguirão impor o respeito na sociedade”.
Em dezembro de 1971 Adelina concluiu com sucesso a Escola Normal: “entrei para lecionar na escola em Santa Rita onde tive a oportunidade de conhecer o vereador Inácio Halfeld”. Ele me convidou para trabalhar como professora pela prefeitura: “eu fui também a primeira professora do Movimento Brasileiro de Alfabetização (conhecido como MOBRAL), na época que ele estava começando em Juiz de Fora”. O objetivo era erradicar o analfabetismo do Brasil em dez anos e propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos acima de 15 anos, como meio de integrá-los a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida: “eu participei do clube sobre os negros que tinha na Floriano Peixoto e tive o prazer de dar aula para os negros e negras que ali frequentavam”, lembrou. Adelina contou que embora o MOBRAL tenha sido criado formalmente em 1968, ele só foi efetivamente implementado a partir de 1971, durante o governo do general presidente Emílio Garrastazu Médici.
Antes de formar ela já tinha trabalhado na Frangolândia e pouco tempo foi chamada para trabalhar na Santa Casa de Misericórdia, pois na verdade Adelina queria ir fazer faculdade de Medicina depois de formada: “mas eu não fui, pois perdi minha mãe que teve um infarto em 1972 e aí as coisas ficaram muito difíceis. Houve um descontrole total e, por muitos anos, eu não pude também dar continuidade nos estudos”. Ela teve que lidar com a perda de sua querida mãe: “confesso que voltei à estaca zero”. Adelina se viu sem o apoio da mãe na situação de ter que tomar conta de família e resolver problemas. Por isso precisou voltar a trabalhar como doméstica e lavar roupas para fora: “me tornei do dia pra noite dona-de-casa, tinha que cuidar do meu pai, dos sobrinhos, e aí as prioridades mudaram completamente”, lembrou.
Além dos estudos, da luta e do trabalho, com o companheiro Sadi, a batalhadora Adelina se tornou mãe de de uma filha e um filho (fotos acima) e hoje mostra orgulhosa as fotos de suas duas netas e seus quatro netos, além de um bisneto: “uma bela descendência para eu ar o meu legado de luta, não é?”, comentou. Sorridente ela lembra que: “não foi fácil para sustentar as muitas bocas. Eu tive que dar duro trabalhando também como doméstica e babá por algum tempo e ainda conciliar com os estudos”.

Adelina era estudiosa e tinha feito curso de contabilidade e de datilografia, que na época era muito importante. Logo que as finanças melhoraram, em poucos anos: “lá estava eu de novo disputando uma das duas vagas oferecidas pela empresa Becton Dickinson Indústrias Cirúrgicas S.A.”. Em meio às 62 candidatas Adelina foi uma das escolhidas: “me lembro que naquela época também contava-se nos dedos os negros que trabalhavam na BD, e fui trabalhar no hospital-escola”. Ela foi trabalhar numa clínica no bairro Benfica: “mas meu patrão precisou de uma enfermeira para tomar conta do tio dele em Bom Despacho”. E lá foi ela em busca da sobrevivência com dois filhos para criar.
Mas logo seu pai precisou de cuidados intensivos e: “eu tive que pedir demissão para me dedicar à família”. Batalhadora, em breve conseguiu mais uma vez estabilizar a família e prestou concurso para Técnica de Saúde no Exército Brasileiro: “comecei a trabalhar no EB, mas lá a gente ganhava muito pouco, menos que o salário-mínimo, e, como eu tinha que manter família, tive até que trabalhar em outros lugares para complementar a renda”, descreveu a dura realidade das famílias pobres, negras e periféricas. No Hospital Militar ela assistiu a vários episódios de tratamento desigual dos negros, contou com tristeza sobre o racismo.

Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 1983, mas Adelina comentou que seu filho tinha começado a participar do Grupo Kizomba-JF, no bairro Benfica: “ele falou, mãe, vai ter uma reunião? Vamos? Aí eu fui, mas eu não sabia que essa reunião era a eleição”. Claro que com sua experiência a elegeram como membro da diretoria: “eu trabalhei muito e foi muito bom”. Neste grupo Adelina iniciou muitas ações, como o desfile ‘Raízes Negras’ e em 1999 organizou a participação do Kizomba na ‘Marcha dos 100 mil’ em Brasília: “o Kizomba é um movimento de juventude na construção de uma nova cultura política anti-racista, feminista, colorida, ecossocialista e internacionalista”, explicou.
Adelina nunca fugiu da luta por uma sociedade mais justa e igualitária, quando viu ela já estava empenhada no ‘Grupo Axé Criança’ que estava iniciando: “foi o próprio padre negro Guanair da Silva Santos quem me pediu para ir ajudá-lo”, lembrou. O Axé Criança afro-brasileiro tinha sido fundado em 1997 lá no bairro Ipiranga: “com o objetivo de conscientizar as crianças do valor da cultura negra”.
Como sindicalista, ela foi a primeira presidente do conselho de saúde da Vila Esperança I em 1999. Na luta, o primeiro o foi fazer uma campanha de tijolos para construção da UBS, ocasião que conseguiu toda ferragem na fábrica da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira: “em três anos a UBS foi construída e entregue ao usuário”. Nesta época organizaram vários mutirões de saúde: “inclusive um deles com os militares do Hospital Geral, que foi um sucesso”.
No ano 2000, Adelina ajudou e participou da fundação do Conselho Municipal de Valorização da População Negra de Juiz de Fora, renomeado em 2015 Conselho Municipal de Promoção à Igualdade Racial (COMPIR/JF): “é dentro do COMPIR que a gente abriga toda a problemática racial da cidade, da mulher, da criança e do adolescente, do trabalho, da moradia, etc”. Desde 2002 ela participou da fundação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM) junto com a vereadora Nair Guedes, onde Adelina trabalhou como conselheira e representante do Fórum das Mulheres Negras.
Em 2004 representando o Centro Cultural Kizomba, Adelina foi novamente nomeada para o CMDM, e, para ela: “não adianta ter tanto movimentosnegros e só ficarmos pelo centro da cidade. Enquanto nós não virmos para as periferias, trabalhar na periferia, nós não vamos avançar”, profetizou. Além disso, as mulheres começaram a fazer coisas, assim, a favor das mulheres: “mas eu acho que nós não devíamos separar dos homens, pois os homens continuam se sentindo machistas e se achando superiores. É por isso que está esta matança de mulheres, porque a mulher não se fortaleceu; na verdade ela continuou fraca na sociedade”.
Em 2007, durante o governo do prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado, Adelina participou ativamente da 1ª Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres, com o objetivo de analisar e repactuar os princípios e diretrizes aprovados na 1ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (2004). Os temas foram: I – análise da realidade brasileira: social, econômica, política, cultural e os desafios para a construção da igualdade na perspectiva da implementação do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres; II – avaliação das ações e políticas propostas no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, sua execução e impacto; e III – participação das mulheres nos espaços de poder.
Na coordenação geral estava Regina da Conceição Pereira, Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM); na subcomissão temática estavam Adelina representando o Centro Cultural Kizomba, Sandra Silva, Alexandra Rossi de Oliveira e Nadir Helena Rocha Goula. No final de 2007, Adelina foi eleita para a diretora do Conselho Municipal para a Valorização da População Negra – JF, com mandato de 2007 a 2009.
Após sua aposentadoria, em 2010, Adelina filiou-se ao PCdoB: “apesar de todo meu envolvimento com o mundo da política eu não penso em me candidatar, faço mais diferença atuando nas comunidades”, afirmou. Nesse ano se aposentou no Ministério da Defesa, onde, por 48 anos, foi funcionária como técnica de enfermagem. Mas a atuação dela é mesmo na luta comunitária e em 2010 como presidente da Associação dos Moradores do Bairro Vila Esperança, região Norte da cidade, Adelina conseguiu o asfaltamento do bairro todo junto ao Prefeito Custódio Mattos, que com sua comitiva, foram visitar as obras (fotos abaixo).
As obras faziam parte do Programa Rua Nova no Bairro Vila Esperança, totalizando cerca de 1,6 mil metros de asfaltamento: “o asfalto traz conforto, representa cidadania e é um direito de todos”. Foi Adelina que também pleiteou a construção do Curumim da Vila Esperança: “pudemos ampliar o atendimento às crianças e adolescentes com atividades sociais e de convivência, fora do período escolar. Além disto, pretendíamos construir uma creche para atender as famílias desta região”, comentou.

Na foto abaixo da esquerda, em 2012, Adelina representou como Presidente do Kizomba/JF em reunião com o Coronel Domingues, Carlos Bonifácio (Presidente da Câmara Municipal de Juiz de Fora) e Roberto Dilly, diretor do Museu de Crédito Real: “a Kizomba é um movimento organizado nacionalmente construindo uma nova cultura política orientada para a luta democrática, socialista, feminista, anti-racista e anti-lgbtfóbica”, comentou.

Ela se lembrou com orgulho da cerimônia de aposentadoria: “quando aposentei recebi das mãos do general e do próprio diretor do hospital um Diploma de Honra ao Mérito”. Na ocasião eles a convidaram para fazer a ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra). Adelina explicou que a ADESG criada em 1949 existe para divulgar a Doutrina de Segurança Nacional (DSN) da Escola Superior de Guerra (ESG): “inspirada no National War College dos EUA, os cursos se dedicam aos estudos conjunturais, assuntos nacionais, internacionais e militares”, lembrou. De julho a novembro de 2012 Adelina participou do XXIII Curso de Estudos de Política e Estratégia da ADESG-JF: “hoje eu sou Adesguiana e é uma coisa que nós temos que nos orgulhar e quem quiser saber mais pode ler o Manual Básico da ESG”.

Ainda em 2012, a atuante Adelina foi até Belo Horizonte defender os direitos dos servidores inativos no evento organizado pela Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (CONDSEF), em conjunto com o SINDSEP/MG: “na ocasião chamei a atenção para a falta de políticas do governo para os aposentados do setor público e ressaltei a necessidade de todos abraçarem em conjunto a causa dos trabalhadores”. Ela completou que: “o futuro de todos é a aposentadoria e precisamos recuperar o orgulho de ser servidor público. O governo só consegue nos prejudicar porque estamos separados”, alertou.
Em 2013 Adelina era presidente da Associação de Moradores do Bairro Vila Esperança I e conseguiu junto ao prefeito de Juiz de Fora Bruno Siqueira que a praça do bairro recebesse um mutirão de limpeza, fosse asfaltada, além de ter sua área de lazer pintada, interna e externamente. Ela lembrou que: “as ações que foram realizadas mostraram aos moradores o real significado de comunidade, pois a população tem que entender que temos deveres e também temos nossos direitos”.
Em 2014 Adelina foi eleita membro da Mesa Municipal de Negociação Permanente do SUS, representando o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal do Estado de Minas Gerais (SINDESEP/MG). Em 2015, representando a Região Sanitária 08, ela foi nomeada membro do Conselho Municipal de Saúde para o biênio 2015 a 2017. Ainda nesse ano, Adelina foi eleita conselheira para o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, representando o SINDESEP/MG. Como técnica de saúde e ativista, Adelina comentou que: “nossa saúde no Brasil está muito enfraquecida, pois o SUS está enfraquecido”.
Ainda em 2015 ela foi nomeada representante da União de Negras e Negros pela Igualdade – UNEGRO no Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial – COMPIR/JF, órgão de assessoria, planejamento e consultoria do município, criado em 2014 e normatizado pela Lei 13.109 de 05.03.2015. Adelina ou a contribuir para os objetivos do COMPIR/JF, e uma luta antiga sua: “de buscar formas de efetivar ações afirmativas, visando a valorização e o reconhecimento da participação histórica das populações afrodescendentes e de outros seguimentos étnicos existentes”. Para a felicidade de Adelina: “o Município de Juiz de Fora reconhece os negros como agentes sociais de produção de conhecimento, riqueza, estimulando a preservação de suas tradições, como forma de eliminar a discriminação, o racismo e suas manifestações”.

Em 2018 Adelina foi designada membro da Comissão Municipal para Formulação de Diretrizes do Programa de Capacitação e Reciclagem para o Serviço de Atendimento ao Idoso de Empresas do Comércio de Juiz de Fora, representando o Conselho Municipal de Saúde (CMS/JF) e em 2019 designada novamente para representar a Região Sanitária 08 e integrar o Conselho Municipal de Saúde (CMS/JF) para o biênio 2019 a 2021.

Ainda em 2018 Maria Adelina foi convidada para participar com suas experiências e foi homenageada em Montes Claros – MG pelo Núcleo de Estudos de Pesquisa das Relações Étnico Raciais (NEAFRO Tambores dos Montes). Na ocasião ela recebeu o título de Rainha Nzinga (fotos acima com Hilário Bispo, coordenador do NEAFRO): “o evento envolve mulheres de todas as profissões, classes sociais, de quilombolas até juízas, envolvidas ou não com a política”, explicou. Durante os dias em que ou em Montes Claros (fotos abaixo). Já em 2019 ela recebeu novamente um troféu (fotos acima), foi muito requisitada e contou sobre suas experiências em rodas de conversa, oficinas de turbante e na noite da entrega do merecido prêmio: “o Troféu Rainha Nzinga de valorização da mulher negra tem por objetivo de dar visibilidade e valorizar a luta das mulheres que militam no combate ao racismo em diversas frentes”, lembrou.

Em 2022 representando o Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial (COMPIR/JF), Adelina foi convidada a compor o Comitê de Enfrentamento ao Extermínio e Encarceramento da Juventude Negra: “o comitê tinha como objetivo a elaboração do ‘Plano Juventude Quer Viver: Plano de Prevenção a Violência contra a Juventude Negra’, pois Juiz de Fora é uma cidade cuja a raiz é majoritariamente negra, então há um débito a ser resgatado, há sim uma reparação que precisamos fazer”. Ela explicou que: “o documento aprovado se dedicava a transformar a realidade da juventude negra, sobretudo a que vive na periferia da cidade e que o plano deverá garantir à juventude negra direitos sociais, ampliar o o aos serviços públicos e às atividades com geração de renda, além de valorizar a diversidade individual e coletiva”.
Ela recitou as palavras da prefeita de Juiz de Fora Margarida Salomão: “os dados no Brasil são alarmantes e vergonhosos, onde 46% dos encarcerados são jovens entre 10 a 29 anos e 70% deles são negros. Além disso o país tem a 4ª população encarcerada do mundo”. Segundo Adelina: “isso demonstra o fracasso na elaboração de políticas públicas para nós negros, pobres e periféricos”. Não é por menos que neste mesmo ano Adelina foi homenageada como lutadora para a ‘Medalha Nelson Silva 2022’, que reconheceu uma vida inteira de luta (fotos abaixo).

De 8 a 10 de dezembro de 2023, Adelina participou em Salvador – Bahia, do VI Congresso da UNEGRO Nacional: “no centro dos debates estavam as questões da saúde e do antirracismo, mas também uma avaliação das políticas públicas com vista na amenização das desigualdades raciais e sociais”. Foram também renovadas as diversas comissões para os próximos quatro anos. Ouça a entrevista de Maria Adelina Braz nesse link, que a partir deste Congresso, ou a fazer parte da Comissão da UNEGRO para a saúde a nível nacional, e ou a representar o Estado de Minas Gerais: “é um trabalho imenso para o qual olho com alguma apreensão, mas também com muita determinação em fazer um bom trabalho sobretudo para levar os idosos a cuidar bem da sua saúde”. Na foto abaixo da esquerda Adelina com o ex-presidente da UNEGRO-BR Edson França e na foto abaixo da direita durante as atividades do congresso.

Em 2024 participou da reunião do Comitê Técnico da Saúde da População Negra de Juiz de Fora (CTSPN/JF): “que é o responsável pelo acompanhamento da implementação da Política de Saúde da População Negra em Juiz de Fora”. Adelina lembrou que: “o CTSPN tem por finalidade assessorar tecnicamente a Secretária de Saúde no intuito de promover a equidade racial na atenção à saúde, apresentar subsídios técnicos e políticos voltados para a atenção à saúde da população negra, apresentar propostas de intervenção conjunta nas diversas instâncias e órgãos do Sistema Único de Saúde (SUS), além de participar de iniciativas intersetoriais e acompanhar ações programáticas do Ministério da Saúde”. Ela comentou que atualmente a população negra, pobre e periférica ainda está ando por muitas dificuldades: “porém não mais como antes, pois nós lutamos e continuaremos na luta”, contextualizou.

Na foto acima em 2025 em reunião com as lideranças femininas negras de Juiz de Fora: Sandra Jesus - presidente do COMPIR/JF, Sandra Silva - liderança do bairro Ipiranga e Dona Beth liderança do bairro Dom Bosco. Atualmente Adelina é a presidente da UNEGRO/JF e secretária na secretaria de idosos da UNEGRO/Nacional.
Maria Adelina lamentou que: “nós ainda não temos liberdade de quase nada. Hoje continua-se a procurar os escravos para o trabalho explorador, nos tratam como escravos, porque ainda não temos os direitos garantidos como nós gostaríamos e deveríamos ter”. Para Adelina isso é obrigação do Estado Brasileiro, das leis e da Constituição: “eu acho que todos brasileiros deveriam estudar a Constituição, porque é baseada nela que nós teremos base para discutir e para mostrar para as autoridades os nossos direitos. Infelizmente o povo não dá essa importância”. Ela acredita que a resposta está na educação: “se fôssemos conhecedores da Constituição, com certeza estaríamos muito melhor”, concluiu com experiência e sabedoria.

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FONTE/CRÉDITOS: Maria Adelina Braz
Alexandre Müller Hill Maestrini

Publicado por: 1iz

Alexandre Müller Hill Maestrini 20149

Alexandre Müller Hill Maestrini é professor de alemão no Instituto Autobahn e autor de quatro livros: Cerveja, Alemães e Juiz de Fora, Franz Hill – Diário de um Imigrante Alemão, Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda e Arte Sutil.

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