Na noite da última sexta-feira, 21, a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) realizou uma live para celebrar o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”. O debate foi transmitido na página oficial da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) no Facebook e contou com a participação da Prefeita Margarida Salomão e mediação de Marcelo Camurça, professor titular aposentado do departamento de Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Abrindo o encontro, Margarida lembrou que a PJF vem dando continuidade às políticas públicas iniciadas pelo governo do Presidente Lula, que, em 2007, instituiu oficialmente no país o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”. “A intolerância ensanguenta a humanidade há milênios. A própria ocupação do continente americano pelos europeus foi um ato de violência contra os povos que aqui viviam e suas crenças. Daí a importância de debater formas de superar estas práticas desumanas que, de certa forma, perduram no Brasil até hoje. Combater a intolerância é, sobretudo, lutar pela democracia”, avaliou.
“Nos reunimos hoje também para festejar o diálogo inter-religioso, uma ferramenta capaz de promover a superação da intolerância. Fazemos parte de uma gestão que não poupa esforços para promover esse diálogo, como prova a criação do Comitê Municipal de Respeito à Diversidade Religiosa de Juiz de Fora (CDR/JF). Nosso município foi pioneiro em tantas iniciativas. Que seja também nesta área”, afirmou a coordenadora do CDR/JF, Flávia Beghini.
Para o teólogo e monge beneditino, Marcelo Barros, a intolerância religiosa é sinal tanto de uma religião fossilizada, fruto de um império colonial conquistador, como de um fanatismo cultural que legitima o racismo. “No Brasil, muitas crenças de matriz africana são perseguidas. Somente através do diálogo espiritual podemos reverter esse cenário. A importância de se dialogar é algo previsto em praticamente todas as religiões, seja no evangelho cristão, no hinduísmo ou nas obras do filósofo chinês Confúcio”.
O assessor do departamento de cultura e território da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), Ebomy Azarias de Oxalá, lembrou que o estado laico brasileiro, previsto na Constituição Federal de 1988, foi resultado de um diálogo a partir de várias visões de mundo, mas que hoje está em risco. “Há 18 anos, organizamos em Juiz de Fora o Feijão de Ogum, um evento para promover a diversidade. Porém, precisamos avançar ainda mais neste debate, sobretudo no aspecto legal. Daí a importância de se criar uma delegacia especializada em casos de racismo e intolerância religiosa, reduzindo assim a burocracia atual”, sugeriu.
Já para o professor titular aposentado da UFJF, Faustino Teixeira, o grande desafio atualmente é lidar com a intolerância de vida, que ultraa, inclusive, o campo religioso, abrangendo diferentes convicções, espécies e habitats. "O diálogo inter-religioso ainda é pequeno. Qualquer comitê da área precisa ter uma visão mais ampla, que aborde também a interespiritualidade, pois há muitas pessoas que não possuem religião, mas têm crenças particulares, como Gilberto Gil, por exemplo. A espiritualidade vai além das religiões, pois fala sobre qualidade de vida”.
Origens da data
Celebrado em 21 de janeiro, o “Dia Mundial da Religião” foi proposto pela Assembleia Espiritual Nacional, realizada em 1949. O evento teve como objetivo promover o diálogo, a tolerância e o respeito entre religiões diversas.
Já no Brasil, o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa” foi instituído pela lei federal nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. Ele foi criado em virtude da morte de Gildásia dos Santos e Santos, conhecida como Mãe Gilda, fundadora de um terreiro de candomblé. Ela e o marido foram perseguidos e sofreram várias agressões físicas e verbais dentro do seu espaço religioso. Na sequência, Gilda faleceu após um infarto fulminante.